Eu, grávida de dois meses da minha filha Mirela, puxando o samba no chão, pois fiquei com medo de cair do carro alegórico.Na época se fazia de tudo, se puxava o samba e era destaque ao mesmo tempo! 1984.
Destaque e puxadora de samba.....caramba! 1985. O tema da Escola Deixa Sambar era "Sonho dos Bandeirantes".
Momento de alegria! Depois que o desfile das escolas terminava, íamos todos para o Parque no Imigrante onde era divulgada a pontuação das escolas.Três anos seguidos recebi o trofeu de "Melhor intérprete". Peguei o gosto pela coisa!Ninguém mais me segurava! Muito bom! A Escola Deixa Sambar, nos seus poucos anos de vida não conseguiu chegar ao primeiro lugar, mas foi uma escola que surprendeu, e incomodou muita gente grande,isto é, as escolas tradicionais, maravilhosas que eram " Cascata", "Soreba" e o "Maracangalha" que foi a mãe de todas!
Como uma boa cinquentona já posso dizer: bons tempos aqueles!
Bons tempos, quando o carnaval de Lajeado unia ricos e pobres, velhos e novos,prefeituras e escolas de samba, cidades da região!
Era um festival de criatividade e dignidade, de todos.
A rivalidade entre as escolas fazia a festa.Antes, durante e depois das quatro noites de carnaval.
Nos primeiros anos disputávamos com as escolas da cidade e depois passou a ser regional esse campeonato de sonhos! E dá-lhe purpurina, dá-lhe lantejoulas.Bordados, colagens, ensaios, samba enredo....tudo se fazia com grande alegria, com muita garra. Na época eu tinha vinte e poucos anos.
Passávamos a ser inimigos ferrenhos da própria mãe se ela não fosse da mesma escola.Eu tive esta experiência,sendo inimiga número 1 da minha irmãzinha mais nova, Tita (Bia), que puxava o samba para a "Soreba" e eu para o "Deixa Sambar".E olha que ela morava comigo e tinha muito mais experiência que eu em se tratando de carnaval.
Alguns falam por aí que não temos vocação para fazer carnaval! Puts! E o que eram aqueles desfiles dos anos 80 aqui em Lajeado?
Eu confesso que prefiro desfilar numa avenida, puxando o samba durante 1 hora, do que me vestir de alemazinha....aliás, nunca fiz isso, nem vou fazer.E olha que sou de origem alemã, de pai e de mãe. Me identifico muito mais com o samba do que com os bailes de "chucrutes". Mas isso é outra história.Um dia eu conto com maiores detalhes! Podem acreditar, sofri preconceito por causa disso, tanto com0 sambista como cantora nativista, pelo fato de ser "galega", "branquela", "alemoa", em fim...
Sabe o que acontece? Aqui no sul não se encara o carnaval como empresa, como um negócio, salvo Porto Alegre!
Houve uma tentativa, pelos empresários Leo Katz e Jorge Facione na época. Eles tiveram essa sacada, mas como tudo que se refere a arte, música, dança,teatro, não é considerado um bom negócio. Aí as pessoas preferem investir numa loja de confecção, numa fábrica de refrigerante, numa imobiliária, numa farmácia....é um negócio mais "sério". A arte não é séria, é apenas um divertimento....dizem muitos! Caramba!
Então, os foliões cresceram, casaram, tiveram filhos, uns de deram mal outros muito bem, mas se esqueceram de como era bacana todo aquele trabalho.Perdendo ou ganhando o campeonato!
Claro, que o mundo muda, a vida passa.....surgem coisas novas, e coisa e tal e tal e coisa! Os privilegiados envelhecem, outros morrem antes...
A verdade é que as "escolas" de hoje, querem tudo de mão beijada! A Prefeitura não pode e não deve arcar com todas as despesas só para acontecer o desfile. Acho até que fazem demais! Tudo bem oferecer a logística, iluminando a avenida e organizando a segurança.Ponto! O resto é com as escolas! Quem não tem competência, não se estabeleça! Aliás, "escola de samba" é onde se aprende sambar, cantar e a pesquisar quando se escolhe um enredo.E isso é cultura!Isso é "Escola de Samba".Um grupo reunido com alguns intrumentos, usando fantasias de camiseta com lantejoulas compradas prontas e sem tema nenhum , ou com temas óbvios, com "Ecologia","Aquecimento global", "A rainha Xuxa", me poupe....isso é uma enganação!
As escolas devem criar o produto, com qualidade e vendê-lo! Simples.Compra e venda, através de patrocínios mediante projetos culturais. A Prefeitura, por sua vez, deve exigir qualidade, organização, disciplina, se não, nada feito!
Eu estou de boca aberta assistindo o "baita" trabalho que o secretário de cultura e turismo de Lajeado, Gerson Teixeira, está tendo para que saia o desfile de carnaval. A preocupação dele também é deixar as escolas felizes, oferecendo dinheiro antecipado prá que comprem o material necessário para as alegorias e fantasias. Eu sei, ele quer que a coisa aconteça! Devem estar cobrando isso dele!
Mas.... Carnaval não se faz de última hora, carnaval se faz a partir de março! É isso que as escolas devem entender. A mobilização dos componentes e diretoria deve ser desde o início do ano, com eventos, divulgação da escola, apresentações pela região, etc, etc....Resumindo, primeiro vem o dinheiro, depois vem o espetáculo. Primeiro se planta, depois se colhe. É a lei natural de todas as coisas!
Eu entendo perfeitamente a boa intenção do secretário, mas não é ele quem deve correr atrás do dinheiro. São as escolas. Mas, quem está pagando essa conta somos todos nós.E nem todos os munícipes estarão lá para assistir. Muitos gostariam de estar assistindo um show de mpb, um teatro ou quem sabe um concerto de marchinhas de carnaval na praça da matriz, utilizando aquele espaço maravilhoso que serve de dormitório para alguns andarilhos da cidade....
Eu adoro carnaval, adoro desfiles bem elaborados, com capricho e respeito, com história, com criatividade.
Fico vidrada na frente da televisão vendo os desfiles de Porto Alegre, que melhoraram muito e os do Rio de Janeiro, que por enquanto são imbatíveis.Presto atenção principalmente na letra do samba enredo.
Sinto muita saudades do Carnaval de Lajeado e da Região. Bons tempos aqueles!
"Numa noite de alegria, surgiu no coração da garotada...a euforia de um grande batucada...foi numa festa do mar, até o dia clarear...samba confete e serpentina e todos a cantar...laialá......" (Samba enredo da Escola Deixa Sambar - 1982.)
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